A mamografia é o exame de imagem mais importante para detecção precoce do câncer de mama, uma doença que afeta milhares de mulheres brasileiras todos os anos. Compreender em que momento da vida iniciar esse rastreamento pode literalmente salvar vidas, pois o diagnóstico precoce aumenta significativamente as chances de cura e permite tratamentos menos invasivos. Recentemente, o Ministério da Saúde atualizou suas diretrizes sobre mamografia, ampliando o acesso e gerando muitas dúvidas sobre a idade ideal para começar esse importante exame .
A pergunta “a partir de qual idade fazer mamografia” não possui uma resposta única e definitiva, pois depende de múltiplos fatores incluindo histórico familiar, presença de fatores de risco e recomendações de diferentes sociedades médicas. As diretrizes brasileiras passaram por mudanças importantes em 2025, refletindo tanto evidências científicas atualizadas quanto a realidade epidemiológica do câncer de mama no país. Entender essas nuances permite que você tome decisões informadas em conjunto com seu médico sobre quando iniciar o rastreamento mamográfico .
O câncer de mama representa a primeira causa de morte por câncer entre mulheres no Brasil, com estimativa de mais de 73 mil novos casos anualmente. Estudos mostram que aproximadamente 40% das mulheres diagnosticadas estão abaixo dos 50 anos e 20% acima dos 69 anos, evidenciando que a doença não respeita limites de faixa etária . Esta realidade brasileira, diferente de países desenvolvidos onde a doença se concentra em idades mais avançadas, fundamentou as recentes mudanças nas recomendações de rastreamento mamográfico no país.
Novas Diretrizes do Ministério da Saúde Para Mamografia
Em setembro de 2025, o Ministério da Saúde anunciou uma atualização histórica nas diretrizes de rastreamento do câncer de mama através da mamografia. Pela primeira vez, mulheres de 40 a 49 anos terão acesso garantido ao exame pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mesmo sem sinais ou sintomas da doença, desde que haja interesse da paciente e indicação do profissional de saúde. Esta mudança representa um avanço significativo, pois essa faixa etária responde por aproximadamente 23% dos casos de câncer de mama diagnosticados no Brasil .
As novas recomendações do Ministério da Saúde para mamografia estabelecem três categorias distintas conforme a faixa etária. Para mulheres entre 40 e 49 anos, o exame pode ser solicitado “sob demanda”, considerando a decisão compartilhada entre paciente e médico, sem ser obrigatoriamente sistemático. Já para mulheres de 50 a 74 anos (anteriormente limitado a 69 anos), permanece a recomendação de rastreamento populacional bienal, ou seja, a cada dois anos, mesmo sem sintomas. Para mulheres acima de 74 anos, a indicação deve ser individualizada, levando em conta expectativa de vida, comorbidades e estado geral de saúde .
Esta mudança alinha o Brasil às recomendações de importantes sociedades médicas nacionais, como a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e a FEBRASGO, que há anos defendiam a ampliação da faixa etária para rastreamento mamográfico. A decisão baseia-se em evidências científicas robustas e no perfil epidemiológico do câncer de mama no Brasil, que difere significativamente de países com maior índice de desenvolvimento humano .
Recomendações das Sociedades Médicas Brasileiras Sobre Mamografia
As principais sociedades médicas brasileiras especializadas em saúde da mulher e câncer de mama mantêm posicionamento mais abrangente que as diretrizes governamentais. A Comissão Nacional de Mamografia, composta por representantes do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e FEBRASGO, recomenda mamografia anual a partir dos 40 anos para todas as mulheres, independentemente de fatores de risco. Esta recomendação considera que 40% das brasileiras diagnosticadas com câncer de mama estão abaixo dos 50 anos .
O rastreamento anual defendido pelas sociedades médicas contrasta com o rastreamento bienal proposto pelo Ministério da Saúde para a faixa dos 50-74 anos. Os especialistas argumentam que a mamografia anual aumenta as chances de detectar tumores em estágios iniciais, quando são menores e mais tratáveis. Estudos demonstram que tumores de mama podem dobrar de tamanho em aproximadamente 6 a 12 meses, justificando intervalos menores entre exames, especialmente em mulheres jovens cujos tumores tendem a ser mais agressivos .
Para mulheres com risco aumentado de câncer de mama, as recomendações são ainda mais rigorosas. Este grupo inclui aquelas com histórico familiar significativo (mãe, irmã ou filha com câncer de mama antes dos 50 anos), mutações genéticas conhecidas (BRCA1/BRCA2), exposição prévia à radiação torácica, ou condições como hiperplasia ductal atípica. Para essas mulheres, a mamografia deve iniciar aos 35 anos ou até mais cedo, a critério médico, além de poder incluir métodos complementares como ressonância magnética das mamas .
Como Funciona o Exame de Mamografia
A mamografia é um exame de raios-X específico para as mamas que permite visualizar estruturas internas do tecido mamário, identificando alterações como nódulos, calcificações, cistos e espessamentos antes que possam ser sentidos através do autoexame ou exame clínico. O procedimento utiliza baixas doses de radiação e é realizado por técnicos especializados em radiologia, com imagens posteriormente analisadas por médicos radiologistas. Existem dois tipos principais: a mamografia convencional (analógica) e a mamografia digital, sendo esta última preferencial por oferecer melhor qualidade de imagem e permitir manipulação digital para análise detalhada .
Durante a realização da mamografia, cada mama é posicionada individualmente sobre uma plataforma do equipamento e comprimida suavemente por uma placa transparente. Esta compressão é necessária para distribuir uniformemente o tecido mamário, reduzir a espessura a ser atravessada pelos raios-X e melhorar a qualidade da imagem. Embora possa causar desconforto temporário, dura apenas alguns segundos. São realizadas pelo menos duas incidências de cada mama – uma de cima para baixo (crânio-caudal) e outra lateral (médio-lateral oblíqua) – totalizando no mínimo quatro imagens no exame padrão .
O preparo para mamografia é simples mas importante para garantir a qualidade do exame. No dia do procedimento, evite usar desodorantes, talcos, perfumes ou cremes na região das mamas e axilas, pois esses produtos podem conter partículas que aparecem nas imagens como calcificações falsas, dificultando a interpretação. Idealmente, agende o exame na primeira fase do ciclo menstrual (logo após a menstruação), quando as mamas estão menos sensíveis. Para mulheres na menopausa ou com ciclos irregulares, o exame pode ser realizado em qualquer momento .
Fatores de Risco Que Influenciam a Idade Para Começar
A idade para iniciar a mamografia deve ser personalizada considerando a presença de fatores de risco individuais para câncer de mama. O fator de risco mais importante é simplesmente ser mulher e ter idade avançada – quanto maior a idade, maior o risco. No entanto, mulheres com histórico familiar significativo de câncer de mama ou ovário em parentes de primeiro grau necessitam vigilância mais precoce e intensiva. Se sua mãe, irmã ou filha foi diagnosticada com câncer de mama antes dos 50 anos, seu risco aumenta substancialmente e justifica começar a mamografia mais cedo.
Mutações genéticas hereditárias, particularmente nos genes BRCA1 e BRCA2, conferem risco dramaticamente elevado de desenvolver câncer de mama ao longo da vida – entre 55% a 87% para mulheres com essas mutações. Outras síndromes genéticas como Li-Fraumeni, Cowden e Peutz-Jeghers também aumentam significativamente o risco. Mulheres com mutações genéticas comprovadas ou forte histórico familiar sugestivo dessas síndromes devem iniciar rastreamento mamográfico aos 25-30 anos, frequentemente incluindo ressonância magnética das mamas como método complementar à mamografia .
Fatores hormonais e reprodutivos também influenciam o risco de câncer de mama e podem justificar iniciar a mamografia mais precocemente. Menarca precoce (primeira menstruação antes dos 12 anos), menopausa tardia (após 55 anos), primeira gestação após os 30 anos, nuliparidade (nunca ter tido filhos), e uso prolongado de terapia de reposição hormonal na menopausa (superior a 5 anos) são reconhecidos como fatores de risco. Exposição prévia à radiação torácica, especialmente durante a adolescência ou início da idade adulta, como em tratamentos de linfoma de Hodgkin, também requer vigilância mamográfica mais rigorosa e precoce .
Diferenças Entre Mamografia de Rastreamento e Diagnóstica
É importante compreender que existem dois tipos de mamografia com propósitos distintos: a mamografia de rastreamento e a mamografia diagnóstica. A mamografia de rastreamento é realizada em mulheres assintomáticas, sem sinais ou sintomas de doença mamária, com objetivo de detectar precocemente alterações que possam representar câncer antes que se tornem palpáveis ou sintomáticas. Este é o exame de rotina que discutimos quando falamos sobre faixas etárias para início do rastreamento, realizado periodicamente conforme as diretrizes .
Já a mamografia diagnóstica é indicada quando existem sinais ou sintomas suspeitos que necessitam investigação detalhada. Estes incluem nódulos palpáveis, secreção mamilar sanguinolenta, alterações na pele das mamas (como retração, espessamento ou aspecto de casca de laranja), inversão recente do mamilo, ou achados suspeitos em exames anteriores que requerem avaliação complementar. A mamografia diagnóstica geralmente inclui mais incidências radiográficas, com imagens específicas e ampliadas das áreas suspeitas, e pode ser solicitada em qualquer idade quando há indicação clínica, independentemente das diretrizes de rastreamento .
Mulheres que identificam alterações nas mamas através do autoexame ou durante consultas de rotina não devem aguardar completar determinada idade para realizar mamografia. Nestes casos, o exame tem caráter diagnóstico e deve ser solicitado independentemente da faixa etária. O mesmo vale para mulheres com histórico pessoal de câncer de mama, que necessitam seguimento mamográfico mais frequente e rigoroso conforme protocolo oncológico específico. A distinção entre rastreamento e diagnóstico é fundamental para garantir acesso apropriado ao exame quando necessário .
Limitações e Riscos da Mamografia
Embora a mamografia seja o método mais eficaz para rastreamento do câncer de mama, é importante reconhecer que não é um exame perfeito e possui limitações. A sensibilidade da mamografia – capacidade de detectar câncer quando ele está presente – varia conforme a densidade mamária, sendo menor em mulheres com mamas densas (predominância de tecido fibroglandular sobre tecido adiposo). Em mamas extremamente densas, a sensibilidade pode cair para 48-64%, comparada a 85-95% em mamas predominantemente adiposas. Mulheres jovens tendem a ter mamas mais densas, o que representa um desafio diagnóstico .
Os riscos associados à mamografia incluem resultados falso-positivos, que ocorrem quando o exame indica alterações suspeitas que posteriormente se confirmam benignas através de investigação adicional com ultrassom, ressonância ou biópsia. Estes resultados geram ansiedade, necessidade de exames complementares e, ocasionalmente, procedimentos invasivos desnecessários. A taxa de falso-positivos é mais elevada em mulheres jovens e naquelas com mamas densas. Estima-se que após 10 mamografias anuais, cerca de 50% das mulheres terão pelo menos um resultado falso-positivo .
O sobrediagnóstico representa outra preocupação relacionada à mamografia de rastreamento, referindo-se à detecção de tumores de crescimento extremamente lento que talvez nunca causariam sintomas ou ameaçassem a vida da paciente. Estes casos levam a tratamentos com potenciais efeitos adversos para doenças que poderiam permanecer indolentes. O sobrediagnóstico é mais relevante em mulheres de idade muito avançada, com múltiplas comorbidades e expectativa de vida limitada, justificando a individualização das decisões sobre rastreamento nesta população.
Métodos Complementares à Mamografia
Para mulheres com limitações à mamografia ou em situações específicas, métodos complementares de imagem mamária podem ser indicados. O ultrassom mamário é frequentemente utilizado como complemento à mamografia em mulheres jovens com mamas densas, para caracterização de nódulos encontrados na mamografia, ou para guiar procedimentos de biópsia. O ultrassom não utiliza radiação ionizante e tem excelente capacidade de diferenciar cistos simples (benignos) de nódulos sólidos que requerem investigação adicional .
A ressonância magnética das mamas representa o método de rastreamento mais sensível disponível, capaz de detectar tumores menores que os identificados pela mamografia. No entanto, devido ao custo elevado, menor especificidade (maior taxa de falso-positivos) e necessidade de contraste endovenoso, a ressonância é reservada para mulheres de alto risco, particularmente aquelas com mutações genéticas BRCA1/BRCA2, histórico de radiação torácica na juventude, ou forte histórico familiar. Nestas situações, a ressonância é utilizada anualmente em conjunto com a mamografia, não como substituição .
A tomossíntese mamária, também conhecida como mamografia 3D, representa uma evolução tecnológica que adquire múltiplas imagens em diferentes ângulos, permitindo reconstrução tridimensional das mamas. Esta técnica reduz problemas de sobreposição de tecidos que podem obscurecer tumores na mamografia convencional 2D, aumentando a taxa de detecção de câncer e reduzindo falso-positivos. Embora ainda não amplamente disponível no SUS, a tomossíntese é considerada o futuro do rastreamento mamográfico e está progressivamente se tornando o padrão em serviços privados .
Como Acessar Mamografia Pelo SUS
Com as novas diretrizes de 2025, o acesso à mamografia pelo Sistema Único de Saúde foi significativamente ampliado. Mulheres de 40 a 49 anos que desejam realizar o exame de rastreamento devem procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) próxima à sua residência e solicitar consulta com médico de família ou ginecologista. Durante a consulta, após avaliação clínica e discussão sobre riscos e benefícios, o profissional pode solicitar a mamografia mesmo na ausência de sintomas. A solicitação pode ser feita tanto por médicos quanto por enfermeiros capacitados .
Para mulheres entre 50 e 74 anos, o rastreamento mamográfico bienal é garantido pelo SUS como parte do programa populacional de detecção precoce do câncer de mama. Nestas faixas etárias, a mamografia deve ser solicitada rotineiramente a cada dois anos, mesmo sem sintomas ou fatores de risco adicionais. O agendamento do exame é feito através do sistema de regulação municipal, que direciona a paciente para os serviços de imagem conveniados disponíveis na região. É importante manter os exames em dia dentro desta periodicidade recomendada .
O Ministério da Saúde anunciou investimentos importantes para ampliar a capacidade de realização de mamografia no país, incluindo o programa de carretas da saúde que percorrem municípios oferecendo consultas, mamografias e, quando necessário, biópsias. Em outubro de 2025, 27 unidades móveis estavam atuando em 22 estados brasileiros. Além disso, recursos de R$ 100 milhões foram destinados para pesquisas relacionadas ao câncer de mama, visando melhorar estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento adaptadas à realidade brasileira .
Perguntas Frequentes Sobre Mamografia
A partir de qual idade devo começar a fazer mamografia?
Segundo as novas diretrizes do Ministério da Saúde de 2025, mulheres podem iniciar a mamografia a partir dos 40 anos mediante decisão compartilhada com o médico. Entre 50-74 anos, o rastreamento bienal é recomendado sistematicamente. Sociedades médicas recomendam mamografia anual a partir dos 40 anos para todas as mulheres .
Com que frequência devo fazer mamografia?
A frequência da mamografia depende da idade e fatores de risco. Mulheres de 40-49 anos podem fazer conforme orientação médica individualizada. De 50-74 anos, o Ministério da Saúde recomenda a cada dois anos, enquanto sociedades médicas sugerem anualmente. Mulheres de alto risco podem necessitar frequência maior, definida pelo especialista .
A mamografia dói?
A mamografia pode causar desconforto temporário devido à compressão das mamas necessária para obter imagens de qualidade, mas não deve causar dor intensa. O desconforto dura apenas alguns segundos durante cada incidência. Realizar o exame logo após a menstruação, quando as mamas estão menos sensíveis, pode minimizar o incômodo .
Posso fazer mamografia se tiver prótese de silicone?
Sim, mulheres com implantes mamários podem e devem realizar mamografia regularmente. É importante informar ao técnico sobre as próteses antes do exame, pois são necessárias incidências adicionais específicas (manobra de Eklund) para visualizar adequadamente o tecido mamário. Ultrassom ou ressonância podem ser indicados como complemento .
A mamografia permanece como a ferramenta mais eficaz para detecção precoce do câncer de mama, e compreender o momento adequado para iniciar o rastreamento é fundamental para a saúde de todas as mulheres. As recentes atualizações nas diretrizes brasileiras refletem tanto o avanço científico quanto a realidade epidemiológica do país, ampliando o acesso e potencialmente salvando milhares de vidas através do diagnóstico precoce. Lembre-se que a decisão sobre quando começar deve ser individualizada, considerando seu histórico familiar, fatores de risco e preferências pessoais, sempre em discussão franca e esclarecida com seu médico.
Você já realizou sua primeira mamografia ou está considerando agendar o exame? Que dúvidas ou receios você ainda tem sobre o procedimento? Como você equilibra as recomendações médicas com suas circunstâncias pessoais e familiares? Compartilhe sua experiência nos comentários – sua história pode encorajar outras mulheres a priorizarem sua saúde mamária e realizarem o rastreamento adequado.


















